Dirigindo - Aula 01

Só de vir aqui e escrever me sinto um ser humano sem palavra, lembro de ter dito que eu não iria fazer as benditas aulas com meu padrasto e aqui estou eu escrevendo sobre ela. Marquei como número um, mas não quero ninguém esperando continuação, foi frustrante demais, tenho o psicológico muito sensível, disfarço fazendo brincadeiras. Me sinto enganado. Minha tia passou aqui em casa para contar as novidades - fofocar - e depois que foi para a casa do jogo (é a casa da irmã do meu padrasto, se reúnem lá para jogar baralho - truco) deixou a filha dela aqui ordenando que todos fossemos pra lá também. Minha mãe pensou se deveria ir ou não e acabou decidindo que iríamos. Eu fui apenas para agradar minha mãe, sei que ela não gosta de me deixar em casa sozinho (ela tem motivos e o motivo não é eu trazer alguém para sexo aqui, que fique claro), então fui.

Eu estava tranquilo curtindo a paisagem quando paramos e meu padrasto saiu do carro dizendo que eu iria dirigir um pouco pra "ter noção", eu não consegui dizer não pra ele que já estava de pé ao meu lado, conheço ele o bastante pra saber que ele se chatearia se eu negasse um aprendizado que um "pai" passa para um "filho" (pelo menos acredito que isso aconteça). Sentei no banco do motorista e vi minha mãe sorrindo no bando de trás, fuzilei ela, sabia que ela tinha armado pra mim, mas não iria assumir isso tão cedo - quis aparatar dali - minha raiva foi cortada pelo meu padrasto me dizendo o que era cada pedal daquele em minha frente (eu já sabia, mas não custa se fingir de burro pra agradar, faço isso às vezes e as pessoas sentem-se superiores a mim, me arrependo sempre - tenho que parar com isso).

Motor do carro ligado. O carro andou depois de eu fazer o ritual inicial de ligá-lo. Eu já estava olhando todas as árvores, postes e pontos fixos que eu poderia bater. Andamos lentamente por uma rua, fiz uma curva maravilhosa e depois de trocar a marcha do carro ele ficou mais rápido. Vi uma criança de bicicleta no fim da rua e gritei "ai meu Deus, vou matar aquele menino", todos riram (ok, fiz gracinha), fiquei serio e acelerei "vou matar aquele menino já". Nem matei. Ele fez uma curva e eu tive que continuar em linha reta. Claro que o carro morreu umas três vezes antes de eu sair a primeira vez, claro que o carro morreu quando troquei de marcha e até na hora de frear, não sei se isso é normal, mas foda-se, o carro parou e pronto. Ele queria ensinar mais um pouco e eu me levantei "não precisa, ta bom já", eu estava bravo de verdade, não gosto de ficar nervoso no sentido: mãos frias e tremendo, suor exalando por todos os poros da pele, alguém bronqueando e aquele dorzinha de cabeça lá longe dizendo que vai me pegar assim você me mata, não gosto disso. Fomos para a casa do jogo depois, ele explicando outras coisas sobre carro, onde errei, onde acertei e eu em silêncio o tempo todo com a cabeça na janela, tentando respirar um ar puro que expulsasse todas aquelas sensações horríveis pra longe de mim.

Comentários

B. disse…
Carro velho pede pra girar a chave de ignição e acelerar. Toda parada é pressionar o freio, seguido da embreagem. É AMIC, eu ensino bem. 2bj ♥