
Estava olhando para o asfalto a minha frente, tentando imaginar a quanto tempo aquela avenida estivera ali. Não consegui chegar a nenhuma conclusão, já que eu não conheço a história daquela parte da cidade e fiquei apenas olhando para o além ao mesmo tempo em que eu girava o pirulito de doce de leite na boca. Quando removi o palito do doce e o joguei no lixo, o saboreei por mais alguns minutos até sentir que ele estava deslizando garganta adentro, olhei para os lados para ver se alguém estava me olhando - ninguém - e tentei fazer o doce voltar, mas não estava dando certo. O melado que ele formava com minha saliva o fez deslizar ainda mais para dentro de minha garganta, deixando-me com pouco espaço para respirar pela boca. Puxei o ar com o nariz para poder respirar e o doce desceu um pouco mais por minha garganta, ele estava praticamente inteiro e pude sentir o formato dele em meu pescoço. Minha respiração estava lenta e na tentativa de fazer o doce voltar, esqueci de respirar. Tentei pedir por ajuda às pessoas que esperavam ônibus naquele mesmo ponto, mas minha voz não saiu, apenas fez o doce descer ainda mais. Na tentativa desesperada de se livrar daquele aperto dolorido em meu peito, tentei engoli-lo - em vão - até ficar totalmente sem ar e tudo se apagar.
Regra do marcador imaginação: a imaginação entra em ação a partir do itálico.
Imaginei essa cena enquanto esperava o ônibus após sair do trabalho.
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