Um Diário Qualquer

Um Diário Qualquer - Parte Um
Há tempos que tenho esse diário sob meu travesseiro, estava com medo de divulgá-lo e ser encontrado caso eu contasse alguma coisa que não deveria, mas hoje estou tomando coragem para isso, uma coragem superior a mim, uma coragem apegada ao meu medo do que li nessa coisa de folhas amareladas. Me lembro que quando o encontrei estava saindo da escola, eu sempre saio por ultimo para tirar minhas dúvidas com os professores enquanto eles arrumam seus materiais e eu espero meu pai me buscar, e assim que sai da sala vi uma página solta flutuando pelo corredor, de longe parecia um teste que alguém recebeu de volta e o descartou por ter notas ruins e achar que nunca mais precisaria e eu sou fã de testes, sempre guardo os meus, mas aquela página não era um teste qualquer de nenhum aluno, aquilo era muito menos uma anotação de um professor, a página que encontrei era continuação de uma confissão, talvez mais do que uma confissão, um desabafo consigo mesmo, me arrepiei.
...corpo dela, mas eu sei que ele vai me punir por ter feito isso, eu tenho certeza de que ele vai me punir por uma coisa dessas, havíamos combinado de não fazer isso com inocentes, apenas com criminosos, para não nos sentirmos tão culpados, não sei como explicar que aquilo apenas aconteceu. Beijos, carícias e o bendito sangue pulsando mais do que deveria pulsar, odeio isso, odeio com todas minhas forças, não quero mais ser assim, não quero machucar pessoas que eu realmente amo, mesmo que só um pouquinho. Agora eu tenho que ir, tenho que ajudar a arrumar minha bagunça ou meu pai vai se livrar de mim da mesma maneira que se livrou de Margareth, minha gata.
Aquela página pela metade veio de algum lugar, me intriguei com o assunto. O que ele tinha feito para conquistar tanto odio do pai? Aquela confissão estava estranha e eu precisava ler o começo daquela meia página. Me despedi da professora e corri para o pátio, várias folhas dançavam com o vento ao redor de um pequeno caderno de capa dura vermelha com letras douradas. Recolhi todas as folhas, elas pareciam fugir de mim - o que aconteceu aqui Lenn? - subi meus olhos até sua mão, ele estava segurando o caderno e várias folhas soltas dentro dele - meu caderno, soltou as folhas pai. Obrigado - puxei o caderno para mim, mas meu pai não o soltou - esse caderno não é seu, o que está acontecendo? - engoli saliva, minha professora passou pelas costas de meu pai se despedindo e então ele soltou o caderno para poder falar com ela. Agarrei-o junto ao meu peito para segurar todas aquelas folhas e corri até o carro, abri a porta, me sentei e fechei-a olhando ao redor, para me certificar que ninguém estava me olhando, eu sempre sinto quando alguém está me olhando.  Respirei no silêncio do carro enquanto fragmentos de pó bailavam ao meu redor e arrumei todas as folhas de forma organizada dentro do caderno, na capa estava escrito de dourado com letras grandes "Dear Diary" e do lado de dentro da capa, no canto esquerdo, com uma letra vermelho sangue estava desenhado "-H". Meu pai voltou e não me perguntou nada sobre o caderno-diário que ele sabia que não era meu, fomos pra casa e eu comecei a ler e organizar as páginas daquilo de acordo com os fatos e datas.

Comentários

B. disse…
Lembrei do garoto de O chamado. KOPSADKPODSKPOADSKPO VISH