Sem Título. Capítulo Um. Parte 4 de 4
Fred acordou no chão da sala, a toalha
ainda estava enrolada em sua cintura – céus! Perdi a hora? - ele olhou no
relógio da cozinha, um pinguim acima da geladeira, eram cinco da manhã – ufa –
ele tinha um despertador natural que o beneficiava sempre. Sentou-se na
poltrona e ficou de frente para a janela enquanto o sol nascia. Alguém bateu na
porta – senhor Birk, o senhor esqueceu-se de pegar as correspondências ontem,
vou colocar debaixo da porta – era o porteiro. Fred correu para abrir a porta,
mas ao fazê-lo ele já estava indo em direção ao elevador – OBRIGADO OSCAR – ele
se virou para acenar e entrou no elevador.
Contas para pagar com um cartão de
aniversário de seus pais que estavam morando em Portugal, sorriu ao ver a letra
de sua mãe e a assinatura de seu pai, talvez ele fosse visitá-los no natal. O
telefone tocou, mas Fred deixou cair na secretaria eletrônica - “Aqui é o Fred,
você já sabe o que fazer” - após o bip a voz de Patricia saiu do aparelho -
“Fred, meu carro quebrou, preciso de uma carona, se você puder...” - Fred pegou
o telefone – eu passo pra te buscar em trinta minutos – ela agradeceu do outro
lado da linha e desligou.
Arrumou-se sem pressa, era sábado e
sábados eram mais tranquilos para se trabalhar, desceu até a garagem do prédio
e destravou o carro com o controle, Fred não dirigia com frequência, já que o
escritório ficava algumas quadras de sua casa, mas Patricia morava mais longe
para ir trabalhar a pé. Em poucos minutos ele estava parado em frente à kitchenette
e Patricia correu em direção ao carro com uma maçã em mãos – obrigado por vir
me buscar, você salvou meu dia – ele sorriu e guiou o carro até o
estacionamento da empresa, discutiram sobre a ideia que ele teve enquanto
caminhavam até o elevador e em seguida para a sala dele – vai cair uma chuva
hoje – ele olhou através da janela e viu o céu nublado, sentiu-se traído por
Nicole não tê-lo alertado, mas lembrou-se de ter apagado no sofá da sala e aliviou-se,
estava sorrindo.
O relógio em sua mesa rosnou depois de
algumas horas de trabalho, era um pequeno leão que rugia a cada hora, ganhou de
presente de seu chefe no dia anterior, um fanático por leões, pegou sua maleta
e seu casaco, não havia quase ninguém nos cubos do escritório – pessoal, podem
ir pra casa, não quero ninguém gripado segunda-feira – duas garotas e um rapaz
se reuniram para saírem, Patricia já tinha saído – senhor Birk, desculpa
atrapalhar o senhor de ir, mas... - ele colocou a mão no ombro da garota e a
virou em direção ao elevador – eu levo vocês pra casa – eles trabalhavam mais
do que os funcionários antigos e Frederico estava pensando em contratá-los para
trabalharem para ele e não para toda a empresa, como faziam. Os garotos moravam
juntos em um apartamento alugado, faziam faculdades diferentes, o garoto Rubens
estava no terceiro ano de administração, a loira Judith cursava comunicação e a
ruiva Bianca estava no segundo ano de marketing, eram inteligentes, simpáticos
e não puxavam seu saco. Eram boas pessoas – quando termina o estágio de vocês?
- o garoto respondeu por elas – estamos fazendo estágio para poder pagar a
faculdade, se encontrarmos algo que pague mais, vamos sair. Trabalhamos demais
por meio salário – Frederico concordou e parou no prédio indicado – se eu
souber de alguma vaga aviso vocês, tudo bem? - a ruiva debruçou-se sobre a janela
do carro – obrigada senhor Fred, vai ajudar muito – se despediram e Frederico
estava de volta ao trânsito.
Pedras
de gelo estavam começando a cair por todos os lados – não acredito nisso – Fred
ligou o radio do carro para saber como estaria o trânsito e as ruas nas
redondezas de sua casa - “o trânsito ao norte está tranquilo, os comerciantes
fecharam mais cedo devido à tempestade, mas as avenidas do lado oeste estão
congestionadas. Uma dica para os motoristas: vão pra casa a pé” - o radialista
brincava com as noticias, mas Fred não iria deixar seu carro do outro lado da
cidade para ir pra casa a pé e ser apedrejado pela natureza. Deu ré e pegou um
atalho que conhecia. Quase uma hora depois estava na rua de sua casa, o garoto
estava parado em frente ao restaurante com um pedaço de papelão sobre a cabeça,
protegendo-se das pedras que caiam sobre ele – HEY, garoto – o carro estava de
frente para o portão do estacionamento, a janela do passageiro aberta – GAROTO
– o menino olhou para ele, tinha os olhos azuis no meio daquela sujeira que estava
em seu rosto – entra no carro – ele não pensou duas vezes, jogou o pedaço de
papelão para longe, entrou e fechou a porta, estava encolhido no banco,
Frederico estava contente, mas não sabia o que dizer para ser amigável com o
garoto sujo que aparentava ter quatorze ou quinze anos.
Comentários