Na
época eu estava fazendo um curso básico de espanhol, que ao lembrar dele hoje
percebo que não aprendi tudo o que eu queria ter aprendido, e sempre que eu
voltava para casa ia visitar minha prima Rosana e brincar um pouco com meus
outros primos, filhos dela – que eram três.
Assim
que subi na calçada sua vizinha e cunhada (esposa do irmão de Renilto) veio me
cumprimentar, estava fedendo a álcool, devia ter acabado de voltar do bar, me
desviei dela sem dizer nada e entrei na casa de minha prima e me deparei com
ela sentada em frente ao computador, parecia sofrer – oiê – era meu cumprimento para quase todos – Henrique, pelo amor de Deus, me salva, vem ver isso – joguei minha
bolsa em seu sofá e me sentei no braço do mesmo, já que o computador ficava ali
na cozinha-sala dela – quem morreu? –
ela me deu um tapa no ombro e apontou para a tela da máquina – eu instalei esse negócio de bate papo aqui,
mas não sei adicionar as pessoas, você sabe pra me ensinar? – era um bate
papo comum, eu tinha uma conta nele e era fácil de fazer. Expliquei pra ela com
detalhes e sua atenção presa a mim me fez sentir vontade de dar aula sobre
aquilo para sempre – ah, entendi,
obrigada. Vou te adicionar também, já me fala seu e-mail – passei meu
e-mail para ela e fui adicionado, no mesmo dia eu a aceitei assim que cheguei
em casa.
Atravessei
a cozinha-sala e me sentei na cama dela, era um quarto-sala (a casa só tinha
três cômodos, uma sala-cozinha – com eletrodomésticos, mesa e sofá – e um
quarto-sala – com camas, guarda roupas e televisão – e o banheiro), fiquei
esperando meus primos chegarem, eu devia ter passado na escola deles e
esperado, a escola deles era próxima da minha, mas já que eu estava ali
esperaria por eles. Fiquei assistindo a videoclipes em um dos únicos canais que
pegavam bem e fui interrompido por ela me oferecendo bolo – deixei em cima da mesa, come – me levantei
e fui até a cozinha-sala, cortei um pedaço do bolo de cenoura com cobertura de
chocolate e coloquei em uma tigela limpa que estava próxima a ele, ouvi o
barulho comum de alguma pessoa enviando uma mensagem por aquele bate papo, eu
detestava aquele barulho, mas a casa não era minha, muito menos o computador,
olhei de relance para o monitor e vi que ela conversava com um rapaz, não
consegui enxergar seu nome, mas eu tinha certeza de que não era Renilto, era
outro homem e esse eu não conhecia.
As
crianças chegaram quando eu tentando identificar o rapaz com quem minha prima
conversava, não consegui ler seu nome, muito menos as conversas que a faziam
rir tanto, acho que ela tinha até esquecido que eu estava ali – riqueeeeeee – gritaram os três juntos,
menos o João Victor que ainda não falava muita coisa além “ik”, abracei a todos
ao mesmo tempo e coloquei bolo nos pratinhos para eles comerem junto comigo (eu
já estava no segundo pedaço). Fomos todos para o quarto-sala e sentamos na cama
de casal para ver o filme do “Homem
Aranha” pela trigésima vez, eu não me cansava e muito menos eles. João logo
dormiu, mas Gabriel e Thaila permaneceram acordados junto comigo até o final do
filme. Rosana tinha ido ao mercado comprar carne para o jantar e eu fiquei
ajudando as crianças com seus deveres de casa. O sol já estava se pondo eu
tinha que ir para casa... A pé – espera mais
um pouco, o pai já vai chegar, ele te leva – Renilto tinha uma moto, era
veloz e bom motorista, mas eu não queria ir com ele – não, não, eu tenho que ir já, tenho que fazer minhas tarefas também -
eles fizeram bico, mas eu tinha mesmo que ir, minha mãe devia estar preocupada.
Coloquei
minha bolsa nas costas e escolhi uma roupa para o primo Gabriel tomar banho
antes que ele dormisse antes do jantar – tchau
Biél – ele me abraçou e entrou no banheiro, me sentei no sofá que tinha do
lado de fora da casa deles e Thaila sentou-se ao meu lado – Rique, fica mais um pouco, o pai vai chegar
e ficar brigando com a mãe, se você ficar aqui eles não vão brigar – isso era
verdade, os dois sabiam lavar a roupa suja em casa, mas também sabiam
disfarçar, às vezes – eles ficam
brigando na frente de vocês? – ela fez que sim com a cabeça – meu Deus, pede pra eles deixarem vocês
dormirem em casa, daí eles podem fazer as pazes logo – eu tentei ser
positivo, mas ela era uma criança e eu também – a mãe não vai deixar. O pai quer jogar o computador fora, mas ela não
deixa – estava começando a virar um problema aquele computador – não fica triste não, brigar é normal –
eu menti, nunca gostei de brigas, mas foi preciso mentir – agora eu tenho que ir, fala pra sua mãe que quinta eu passo aqui depois
do espanhol. Tchau – abracei ela também e sai, João tinha acordado e Rosana
já voltava do mercado, não esperei, apenas caminhei para minha casa enquanto a
imagem daquele rapaz ficava em minha cabeça. Será que eu o conhecia? Era algum
parente distante? Um colega de trabalho dela, talvez?
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