Que sentimento é esse?


Eu estou sem falar com uma pessoa. Na verdade, a pessoa está sem falar comigo e eu já desisti de ficar lhe dizendo o quanto gosto dela e não convencê-la. Se eu for ficar tentando convencê-la, concluo que o problema não é meu quando eu expresso o que sinto e penso, mas o problema é uma questão de acreditar. Isso não é venda de carros para ser convencido de algo. Não sou bom com ações, meus métodos de demonstração de afeto são mais tímidos e por não gostar de receber ordens (não em todos os casos) eu acabo desistindo de qualquer ideia que seja quando sinto que não estou fazendo por mim, e sim, por alguém ter dito para fazê-lo. Gosto de ter minhas ideias, aceito ideias, mas não aceito ordens de como agir com sentimentos. “Faz isso pra ela”. Eu não faço. “Diz isso e isso pra ela”. Eu não falo.

Foi com o pensamento de “não estou falando com ela” ao sair de casa que acabei perdendo o ônibus que eu costumo pegar para ir ao trabalho e a próximo opção era um ônibus do território dela. Eu me sentei e pensei em abrir meu livro, continuar no mundo de aventuras turbulentas em que vivo ao ler, mas decidi ouvir música apenas. Eu não sabia se a veria, mas sei que esse ônibus passa próximo a sua casa, sei que ela às vezes, ou sempre, toma (no sentido de entrar para se transportar) esse ônibus para ir ao trabalho e quando o veículo virou na rua em que sei que ela subiria meu coração se acelerou. “E se ela subir, o que eu faço?”. Não entrei em desespero de arrancar meus cabelos, mas eu me senti desconfortável no lugar em que eu estava sentado. Movi-me algumas vezes e me posicionei de forma satisfatória. “Vou fingir que estou dormindo”. Era uma solução tosca, mas eu não precisaria falar com ela, já que ela não quer nem me ver. Não fingi que estava dormindo. O ônibus parou. Não consegui ver se ela estava ali, prestes a subir, fiquei mais desconfortável ainda. Alguém subiu as escadas da porta de entrada, fiquei imóvel, não consegui ouvir minha respiração. “O que eu vou fazer? Conversar como se não tivesse acontecido nada!? Ela faz isso, porque eu não posso!?”. “Porque você não sabe disfarçar, idiota”. Esse era meu outro eu dando conselhos. Meus olhos começaram a arder, me lembrei de piscar e vi que não era ela quem subia, era outro ser humano que eu não tinha relação afetuosa alguma. Fechei os olhos, mudei de música, e voltei a respirar novamente. A vida continua...

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