A época? Início do século XX. O lugar? Alguma cidade da Colômbia. Situação política? Ditadores alternam-se no poder. O protagonista? Um ancião, homem solitário, solteiro, telegrafista aposentado e jornalista atuante, escritor eventual de críticas musicais e cronista semanal do jornal em que trabalha há décadas. O improvável? Ao completar noventa anos, decide dar um presente a si mesmo: uma noite de amor com uma virgem. Durante sua vida, habituara-se à solidão e ao sexo com prostitutas. Nunca amara, o relacionamento mais longo, puramente sexual, fora com uma empregada que, no auge da decrepitude, ainda limpava sua casa. Pois este homem, conhecido como sábio, professor, há décadas fora noivo de uma mulher bem mais jovem, que fugiu com outro, no dia do casamento. Em dado momento, ele diz que o sexo o impedira de amar. Resolvera escrever um livro sobre as centenas de prostitutas com quem fizera sexo. Escreveria "Memória de Minhas Putas Tristes". Decidido, mantém contato com a cafetina mais famosa de sua época e encomenda uma virgem. Teria uma menina de apenas catorze anos. Dirige-se ao bordel, local disfarçado de armazém, numa área da cidade sem o brilho do passado. Mas não aconteceu nada naquela noite. Não quis acordar a menina, que dormia profundamente. Na noite seguinte, foi a mesma coisa. Na terceira noite, também.
Um crime. Um banqueiro famoso é misteriosamente assassinado e ele ajuda a cafetina a vestir o morto. O bordel é fechado. A versão oficial é que o homem fora morto por membros do Partido Liberal. Ele perde o contato com a cafetina e a menina. Procura a menina pela cidade, sem encontrá-la. Desespera-se. Algum tempo depois, a cafetina ressurge e encontra a menina. Ele retorna ao bordel, porém, ao vê-la mudada, crescida, uma prostituta, assusta-se, quebra o quarto. Acalma-se e visita-a frequentemente, decorando o quarto à sua maneira, dando-lhe presentes, sem jamais fazerem sexo. Amava a menina. A menina o amava.
O tempo passou e quis comprar o bordel, a casa, o armazém, o pomar, mas a cafetina preferiu fazer um acordo: o primeiro que morresse deixaria tudo para o outro. Ou melhor, para a menina. Concordou. Ele estava feliz, porque, velho, estava condenado a morrer amando, em qualquer dia depois dos cem anos.
Fonte: ENTRE-TEXTOSO livro entrou em minha vida a partir de uma indicação. Na verdade este é o primeiro livro, de um clube de leitura, a ser lido. O grupo reúne acadêmicos da cidade em prol do incentivo à leitura e a promoção do compartilhamento de ideias entre os leitores dispostos a participar. Na primeira reunião fora decidido qual seria o livro, reunião que não pude ir, e agora todos aguardam até o dia de discussão do livro em questão.
Pensei em fazer um resumo sobre o livro, mas depois de ler este acima fiquei encantado e decidi compartilhar ao invés de enchê-los com meus comentários desenfreados. Quanto a magia que o curto livro me proporcionou, posso dizer que acredito um pouco mais no amor - já tive uma fase na vida de não crer nele - e não só no amor para mim, mas no amor para todos, para todas as idades. Um velho de 90 anos é capaz de te ensinar que o amor não se trata apenas de sexo, há algo mais além e esse algo é o que me encanta, pois acredito nessa coisa aí [risos]. Espero que possam se encantar, talvez além do eu me encantei, com esse senhor apaixonado ao ler essas 37 páginas. Sim, o livro é realmente curto, mas a felicidade que ele transmite através desse senhor não tem preço algum.
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