Perdas e Danos

O sentimento de perda é uma das coisas que mais me deixam triste.

Talvez pelo fato, de que quando garoto, eu ter perdido minha bisavó e minha mãe ter me contato sobre isso assim que desligou o telefone. O sol estava nascendo e os cômodos ainda continuavam frios na pequena casa de madeira quando o único telefone da família tocou. Acordei e me sentei no sofá - eu dormia com minha mãe por medo do escuro - e logo ela estava assustada e me olhou com aquela cara triste que imediatamente me fez chorar. Não foi um choro que começa nos olhos e se desenrola em coisas molhadas e quentes no rosto, foi uma coisa que veio do meu peito e foi subindo como uma dor quando ela apenas disse "a bisa..." e não disse mais nada. Chorei como uma criança que eu era e minha manhã toda foi assim. Nesse dia eu fiquei pensando na minha bisa com quem eu mal conversava, mas sempre a via lá balançando na cadeira da varanda dela e não a veria mais. Pensei na morte de mais um monte de pessoas que eu gostava e que poderiam sumir... Isso me fez chorar pela manhã toda, sem pausas. Comecei a falar palavrões sem pensar nesse dia, quando os colegas - que não passavam de colegas - riam ou iam perguntar quem morreu sem saber que alguém realmente tinha morrido (há de ser engraçado hoje, mas no dia não foi). Não me lembro se fui para a escola à tarde. Mas me lembro que foi horrível sentir aquilo e por mais que eu já tivesse perdido outras coisas antes disso, foi a primeira morte que eu tive ciência desde que me entendia por gente. Antes disso meu avô paterno faleceu, mas eu era bem mais pequenino se comparado à época em que minha bisa se foi. 

Costumo dizer que foi a primeira vez que senti a dor de perder alguém, alguém talvez com pouca importância em minha vida por eu não ter muito contato com ela, mas depois disso as coisas que perdi me afetavam de forma diferente. Houve menos lágrimas nos próximos eventos e lembro só de mais um momento em que chorei como uma criança pela morte de alguém - e além de chorar brandava palavras de horror a qualquer um que tentasse me dar consolo, meu pai que o diga - só que essas perdas vão tirando pequenas lascas de mim. Não vou dizer "oh, até quando vou aguentar", pois sei que eu posso aguentar muita coisa - ok, algumas coisas eu sei que vão acabar comigo extremamente - mas essas lascas tiradas, por mais que me entristeçam em certos momentos, vão me ajudar a ser um alguém melhor do que o alguém que vos escreve na presente data. Não que eu queira perder mais coisas pra melhorar-me, não quero, só quero que se o mundo ousar em me direcionar um fato do gênero, que eu tenha força o bastante para aguentar e continuar vivendo. Essa chuva toda que caí sobre Maringá me fez lembrar de minha bisa e desse dia. Enfim, a vida continua poha.

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