Eu acho que nunca fiquei assim com nada. Assim.... Me sentindo um completo idiota por dar comida a um animal que não viveria para sempre. Agora o animal será abatido e o sentimento que fica em meu peito quase dói. Só não dói porque sou forte para aguentar e parte racional para enxergar minha culpa, tão grande culpa, em achar que não iria acabar assim.
Vamos dizer que trato esse aninal como um amigo. Uma pessoa. O conheci faz algum tempo, mas já sabendo que não seria tão doce quanto eu estava achando que seria. Seu tipo nasceu para ser doce, ou pelo menos, como a maioria de seus irmãos de espécie, deveria ser doce, mas esse é diferente. E ser diferente é algo que me atrai. Gosto do que não é moda, rotineiro e comum e esse animal tinha algo totalmente incomum. Gostei e adotei.
As primeiras visitas foram estranhas. Ele me ignorou completamente, mas continuava no seu espaço, já que não pode sair, apenas ignorando e sendo O anormal. Alimentei aos poucos. Pelo menos uma vez por dia eu ia até lá para dar comida e a cada visita eu queria ficar um pouco mais. Estávamos tendo uma comunicação silenciosa bem legal. Ele não queria me matar com o olhar como antes. Pensei "parece que agora viramos colegas". E foi isso mesmo.
Quase 3 meses eu o alimentei. Ele cresceu. Ficou forte. Deixei mais espaço para ele poder ficar livre e não pressionado, como estava quando o conheci. Essa liberdade me fez o querer bem. Já estava sentindo um lance ali, mas só eu. Ele não fala. Como é que vou saber se ele quer me matar ou fazer amizade? Fui levando na desconfiança, mas sentindo que a cada visita as coisas ficavam menos tensas.
Nesta fase do texto o animal precisa morrer. Desde o início em que eu me interessei por sua espécie sabia que não iria continuar com ele em minha vida por muito tempo. Ele está forte e vive muito bem sozinho, mas conforme as regras da organização ele precisa ser abatido. A empresa faz a parte oficial, enquanto eu o abato, extraio, subtraio, suprimo ele do meu coração. Cresceu um sentimento legal, mas que também irá morrer e isso começa imediatamente.
Eu entendi sua anormalidade e ao fazer isso, maldita empatia, acabei o amando. Posso chamar de amor, mas ainda acho a palavra incômoda o bastante pra me recusar a chamar "disso". Enfim, ele vai morrer, assim como os outros dois animais em que houve o mesmo processo e sofrimento. É mais XP da vida? Sim. Posso começar a entender meus padrões de como gosto de pessoas? Sim. Vou evitar isso no futuro? Não sei, vou tentar, mas ainda assim malditos sejam meus sentimentos.... Malditos sejam.
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